quinta-feira, 15 de julho de 2010

Terceiro dia.

Parece que quando escrevo eu vivo a ficção que invento durante o dia na minha cabeça, e tem umas pessoas que até acham que é bom. É literatura. Risos. Isso aqui é um monte de nada jogado num documento do Word com a pontuação incorreta de propósito. É arte. Dessas fáceis que tu lança num blog e algumas pessoas lêem. Conheço uns escritores publicados que se levam a sério. Eu acho que escrever tem mais a ver com desapego do que com autoral. E Depois, é papel vai pro lixo - é reciclável, não que eu não queira publicar, mas alguém já disse ou vai dizer melhor. Minhas idéias sobre escrever são medrosas e fingem ser um blog descolado. Meu cu. Olhem só estou aqui escrevendo e digo que só tem referencia aqui, nada novo, tudo cópia mal feita. Qualquer um pode ir conferir. Meu cu para quem ainda não sacou a referência. Risos. Hoje eu nem bebi, ainda.

Nessa linha não vou dizer nada sobre escrever feito o ourives da Praça da Sé que também troca dólar por euro. É casa de câmbio. Literatura casa de câmbio. Troco três poemas meus por uma cerveja. Ainda não bebi hoje. E tudo anteriormente escrito pode não ter haver com o pós-escrito. E isso eu escrevi agora depois de terminar o pós-escrito. a idéia caminha e percorre lugares estranhos. E Isto foi pra dizer que pensei nesse parágrafo.

Dia 13.

Mais velho serei alcoolista sentado nos bares da augusta ... angustiado por qualquer papo, qualquer tato, qualquer grito. Esse mesmo que sucumbo. E venderei meu livrinho medíocre por mim mesmo editado e recitarei Leminski quando estiver bêbado e as pessoas do bar baterão palmas de pena pra mim. Acordarei desse sonho e então terei um emprego de oito horas que pague meu aluguel. vai ser um quartinho medíocre com uma cama de casal habitada esporadicamente por mulheres que conhecerei numa espelunca qualquer depois de vários tiros de um pó ruim, a cama estará com um lençol que minha mãe me ofereceu depois da última visita que fez. Minha mãe sempre dirá que desperdiço minha faculdade nesse emprego público de oitos horas que me impedirá de escrever e de vender meu livro editado por mim de mesa em mesa de bar recitando Ana.C. cansado durmo durante o eterno parágrafo.

Um dia minha mãe vai dizer que eu deveria casar e ter família - Me acha sozinho. E eu vou dizer que tenho meus amigos e outras preocupações, que eu até já namorei umas vezes, mas não deu certo, pois tiravam meu espaço e não conseguia escrever. daí ela vai lembrar que eu ganhei aquele concurso de redação na escola sobre o dia das mães e tudo não vai passar de uma lembrança boa, esquecerá que ando meio só mesmo, que ando comendo mal e que todos meus amigos são casados e bem sucedidos, e que eles, algumas vezes, quando estão fudidos me ligam para tomar uma cerveja e falar da vida ruim que levam. E eu, eu vou me sentir bem quando eles desejarem essa merda de vida que levo, e na hora vou falar que é boa e que gosto.

Primeiro dia. morar sozinho. finalmente passei naquele concurso público que me dará condições de usar meu tempo livre para escrever sem pensar no amanhã. um dia ficarei pensando no ônibus no meio daquela gente suada que também trabalha o dia todo e tem uns filhos, como fui burro ao achar que fazer a mesma coisa durante todos os dias do meu ano seria uma coisa boa, mas daí não haverá tempo e nem mais como fazer aquele mestrado, terei perdido o contato com a academia e verei medíocre todas as idéias. Não poderei ter um cão. Beberei cada vez mais.

E, em alguns dias darei festas e comerei mais mulheres. Até terei uma namorada, conversaremos pouco depois do sexo, e quem sabe até poderíamos gostar um do outro, mas o medo de machucar-se e perder uma foda periódica traga o silêncio depois do sexo. Terei uma melhor amiga com a qual tecerei boas e profundas conversas, a mesma que tenho a vontade de comer e não faço, pois só conheço o silêncio depois do sexo. Flertaremos muitas e muitas vezes depois de meia caixa de cerveja com amendoim, terminando numa catuaba, nus engendraremos umas risadas, acabaremos nos vestindo e sairemos para dançar e fazer sexo com estranhos.

Dia de todos os santos

...

Irei visitar minha mãe, e comerei o que mais gosto, ganharei abraços e meu pai comprará meia dúzias de cervejas para bebermos, não conversaremos nenhum assunto além do futebol, temos gosto pelo mesmo time. Será uma conversa com frases soltas sobre como vivo e o futuro. Logo entenderei que minha mãe pediu para que ele conversasse comigo, logo ele que mal fala com qualquer um, um turrão. Tentará um de meus irmãos e, depois ligará para algum amigo de infância do qual não terei mais o menor contato. Ele me ligará pra tomar umas cervejas em um lugar que já odeio de antemão. E não nos entenderemos e não haverá conversa. e depois nunca mais nos falaremos dirá a minha mãe que talvez eu use drogas. Desmentirei. Essa tristeza é porque terminei com uma namorada que eu tinha que ela nem chegou a conhecer.

“Vésper caiu cheia de pudor na minha cama

Vésper em cuja ardência não havia a menor parcela de sensualidade”.

Entrar na igreja para o batizado do filho de um desses amigos foi tão ou mais dolorido que trocar jeans por social e tênis por sapato. A comida depois valia a pena. o batizado coincidiu com o aniversário do rebento. Parar de usar que. E o brigadeiro desmanchava em minha boca e eu corria atrás das crianças e girávamos pelo gramado, passávamos por debaixo das mesas e ríamos das meninas de vestidos semelhantes ao bolo de aniversário com abacaxi no meio.

Anteontem.

Até podia escrever, mas cansei. Prefiro sorver.

Carta de minha mãe.

“Querido,

Poderia mesmo é ter te ligado.Sei que andas pelos seus recantos, fingindo, sempre fingindo. Quero que me diga, onde dói – acho que você não acredita que percebo – sei desde quando criança era desses seus olhos, esse seu jeito de deixar sua cabeça no meu colo esperando um cafuné - é angustia. Sei também que quer dizer algo, mas cala, pensa assim me deixar mais feliz, ambos somos tristes neste teatro de atos semi-controlados. Vê se alimenta direito, vá a um médico e pare de beber – da última vez que fui ai, só havia bebida na sua casa, e troca aquele lençol. Não me mande dinheiro, achando que resolve sua falta”.Queria mesmo saber onde dói. Não fale com seu pai sobre essa conversa, ele não entenderia.

Aquele dia outra vez.

Parece que todos os dias se repetem. Sei, é um lugar comum. A repetição do meu dia não se da nos hábitos diários: no café; no almoço; na maneira como levanto da cama e coloco as mãos no rosto com os braços apoiados nos joelhos, não está no eu já vivi isso. Repete-se justamente na forma como vou mastigando mentalmente, não sei explicar, mas é como se eu pegasse esses hábitos e ruminasse sabendo o gosto, a cor e a forma de antemão, mas querendo chegar ao fim dele, ao fim não, ao princípio.

Uma Festa lá em casa.

Estou retomando minha vida. Dei uma festa ontem. Chamei uns amigos. A gente bebeu e deu risadas, com música boa ao fundo. Estou morando sozinho faz um mês. Tudo é outra vez novo. Fico feliz em ter contas para pagar, rotina ...andar pelado. Falávamos sobre coisas profundas, sobre os nossos vazios – a casa cheia de uma melancolia doce. Embriagada.

Dia 25.

Minha mãe me mandou uma carta. Nunca achei que fosse possível ouvir aquilo dela, mexeu comigo. Tive medo dessa ligação que temos sob a pele. Fiquei com medo de saber que tem alguém bem dentro de mim, que percebe tudo só de olhar. 20 dias que não vou para casa de meus pais. Fazia tempo que também que não escrevia, andei soletrando frases:

“troquei a velha fantasia por um postal e toda a desesperança”

Não sei ainda o que ela quer dizer.

Meu ter em mim é uma desmesura

Acho que bebi demais. Hoje é terça feira, não já é quarta – ainda é quarta. Depois de um sono mal dormido corro para o banheiro – angustia dupla: a primeira retorna após a embriaguez; a outra é o desconforto do estomago virado.

Aquela amiga que sonho em comer veio em casa hoje. Tivemos uma boa conversa sobre todas as coisas em volta do nosso próprio umbigo – ela estava ligeiramente bela: uma camiseta velha, jeans e tênis sem meia. A camiseta desgrenhada na gola deixava ver seu ombro – enquanto ela falava e eu concordava com a cabeça – pensava seriamente em como jogar meu corpo sobre o dela – e depois nus - continuarmos nosso papo com cigarro acesso entre os dedos e um ar de saciados sob a pele. Mas enquanto ela fala e eu devaneio em sonhos semi-eróticos um eu pudico me segura pelo braço dizendo não. E ela se vai – fica a vontade – meu coração quer peregrinar por arrabaldes quer ser livre em tentar – força maior, estupidez tamanha deixam-no aprisionado. Porra! Porque diabos eu nunca tentei nada? O que eu perco com isso? Medo do que? De perdê-la de vez? Essa coisa de migalhas, de só se ter um pouco, ou quase nada – essa coisa de não se dar, de não se deixar. Vou dormir.

...

Desci a pé até chegar em casa depois do cinema – outra vez sozinho – alguns amigos dizem que fazer coisa assim desacompanhado é deprê – eu acho que me livro de papos chatos e de pessoas com as quais não quero compartilhar o prazer de um filme ou de uma cerveja. Retruco sempre: vocês saem com suas namoradas vão a lugares – e quando não estão com elas estão sempre reclamando sobre ou delas – é triste é deprê é a merda que for – mas eu não me submeto a estar com quem não gosto – com exceção de “colegas” de trabalho. Por que diabos eu vou perder meu tempo com gente que não gosto.

Muitas pessoas pelas ruas enchem os bares e me lembram aquele verso “bares cheios de pessoas vazias” – será que quando estou no bar sozinho estou vazio também? Este meu ter em mim – este silêncio – a violência deste silêncio é um vazio? O que é o vazio de se sentir sozinho? – eu conheço gente vazia – mas não julgo ninguém – na minha casa tem um espelho. E nu diante dele não há reflexo. Paro num bar e entro para beber.

Tudo o que escrevo foge do meu controle, tem uma coisa na minha cabeça que não tem linearidade, talvez, precise de algum tarja preta – ou apanhar na cara – uns belos tapas até ficar com a face dormente. Apanhar na cara. Todo o dia antes de dormir toca na minha cabeça a desmesura de um dia após o outro, levanto para colocar a grandeza no papel – mas ela escapa em mil outros pensamentos e adormeço – é um dormir arrastado que não é dormir nem sonhar – um mastigar de fatos isolados tentando se encontrar, nada disso cabe na palavra angústia – palavra que gosto – tenho retalhos distorcidos em vários arquivos de Word – nada que de um bom texto, nada heróico – nada labirinto – nada. Ela saca tudo isso enquanto conversamos ao redor do nosso umbigo e nos olhamos - tiro a roupa dela, tiro sem tocá-la.



me diz - por onde andar com essa lua, meus pés medem a distancia
em sussurros. Essa coisa tão esquiva e desajustada um jeito todo torto - diria mais pelas coisas incertas esperando que furtivos os momentos se encaixem numa velocidade matemática do acaso - seria mesmo óbvio contar e vomitar querências. E há justiça em trocar aquilo por isto, ou o contrário? Você trocaria? A coisa estável pela demência do novo, pela doce demência de pisar em cubos de gelo – escorregar – por todas as frestas do seu corpo com os olhos maciços - destes que cabem num minuto em trocas verdadeiras. Quantas vezes refugou? Flertar sobre o asfalto de bar em bar – essas profundezazinhas. Será que mergulhar inteiramente numa coisa é pouco? todas estas amarras, toda essa merda – você cospe tudo assim – sente porra!

Dos transportes públicos

A direita uma senhora semivelha narra a uma desconhecida – desavisada que senhoras semivelhas trajando roupas seminovas e com o cabelo em coque quase grisalho são perigosamente tagarelas – fala do casamento da filha da irmã da vizinha; assunto com o qual a outra responde num balançar de cabeça de quem na verdade não quer, não está, e nem pretende ouvir e só é minimamente educada – a velha a cada frase limpa o nariz na manga da blusa. A esquerda, ainda se vê da porta de entrada do ônibus um lugar vazio – começa uma disputa silenciosa em que corpos e mãos tentam agarrar-se cada vez mais longe nas tubulações metálicas em amarelo do ônibus para chegar primeiro à catraca. Perdida a batalha resta o estudo minucioso de ao lado de qual banco se posicionar esperando que logo mais a vitima se levante para ocupar o banco ainda quente de bunda alheia. Esta análise requer a rotina de pegar o ônibus no mesmo horário, verificando a inquietação e principalmente os olhos da vitima – deve-se olhar intensamente e usar todo o repertório de caras e bocas possíveis – mentalmente forçar a saída da outra pessoa do estado de conforto e jogá-la as mesmas condições de luta, feito isso: é dar sorte de que ela realmente vá descer rápido. Fico mastigando essas pequenas batalhas diárias – disputando com desconhecidos provas de velocidade e habilidades – com que rapidez atravesso a rua ou a velocidade como, saindo em desvantagem, chego mais rápido na escada rolante. Escolho sempre alguém com potencial, pernas compridas, e saio à caça – é verdade que perco muitas batalhas – há um excessivo número de pessoas que não sabem andar em plataformas ruas e dentre os milhares de atrasados com segundos caros a romper. Não que esteja atrasado – eu nunca estou – nunca estive – a sensação de disputa é que me atrai. Escolho a vitima e me atiro numa disputa imaginária da qual eu nem sempre sou o vencedor.

Pela manhã: não tomo coragem, tomo café.

Não falar o nome da minha melhor amiga que tenho vontade de comer é preservar a inveracidade do narrado. Nomes - mesmos os inventados em pseudoliteratura fazem as coisas parecem mais reais – chamar a fulana de pessoa que eu quero comer dará ao leitor inúmeras possibilidades de fulanos que eles querem comer e um ar de desimportância ao fato – acho que nada ficou claro neste parágrafo.Estive na casa dela ontem – de um encontro furtivo na mesma sessão de cinema – umas cervejas no bar, outras para viagem – um jazz ambiente tocando: conversávamos.

Fique claro, neste parágrafo, que a todo tempo fico imaginando-a sem roupa.

Ela tinha lido algo que escrevi bêbado num pedaço de papel “descobri toda solidão numa estação de trem com uma coca-cola na mão. Mais triste: Descobri que era sozinho lá”. Você finge toda essa solidão pra fugir – me diz onde dói então? Me explica exatamente estes teus silêncios estas tuas frases, essa coisas docemente tristes que escreves quando o álcool rompe todos os seus nós?. Não que eu nunca tivesse visto ela sem roupa, há na cumplicidade de uma amizade essa coisa de não se preservar o corpo. Sei o formato dos seus seios e posso fingir minha mão na proporção exata para encaixá-la lá. A boca dela tem uma coisa de boca de Alessandra Negrini fazendo engraçadinha moça. Começo por lá pela boca, nunca os olhos – me denunciaria um olhar nos olhos nesses momentos exploratórios imaginativos – agora no colo, ombros nos quais passaria horas tateando com as pontas dos dedos – os seios dois melãozinhos, nem pequenos nem grandes. Tu nunca te entregas a nada! sempre pé atrás, se fica com alguém nunca liga de volta, e quando a pessoa insiste em querer finge um não sei o que de ter cansado de alguém que nunca mesmo chegou a ver de verdade. Ficas nestas teorizações – essa filosofia velha de “todo retorcido”. Hoje ela estava ainda mais bela – me dava um sermão – sabia que eu tinha desistido de uma mulher com quem estava saindo pelo simples fato de ela, a mulher, começar a querer me ver fora daqueles dias combinados em que trepavámos até amanhecermos num motel qualquer – queria saber de mim o que fazia, do que gostava – saber demais. Em três anos isso foi o mais perto de um relacionamento que tive – quatro semanas de sexo nas quartas e sextas. Não sei mesmo de você, acho que também me enganas com estes fragmentos que jogas em frases! No momento em que começaria a chegar à barriga ela vem com uma frase que me traz ao regaço da realidade: uma sala, umas cervejas e uma conversa, que agora me parece séria, sobre mim. È bem nestas horas que eu queria que meu celular tocasse e fosse uma namorada minha com um histérico ataque de ciúmes almejando minha presença imediata. Mas não tenho namorada. Fez-se silêncio depois da frase por algum tempo entre goles – tirei do bolso um pó preparei quatro carreiras: cheiramos. Não que tenhamos fugido da conversa, não era só eu, ela também: ninguém quer chegar aos desvãos realmente, o mais próximo de atirar-se é pensar no precipício. Adormeci pensando que estávamos fazendo amor. Aqui foram somente reproduzidas as falas dela, não que eu não queira me expor – pela manhã deixei um bilhete de bom dia – era domingo.

Proporção estranha: mais cansaço menos sono, cada vez mais. o corpo jaz a cabeça flutua. Um semi-sono intranqüilo. Madrugada. O uísque não dissolve o bolor da angústia no peito, não devolve a juventude e um fígado em perfeitas condições. Estou pensando em me entregar e Dizer-lhe sobre a falta que faz, dizer que sabia que nos machucaríamos. Nos consumimos exageradamente no corpo e na palavra, a palavra livre, falávamos de tudo e sem muros na alma. Soube da sua sede antes de sê-la e ela soube da minha lágrima antes do choro, cada noite nossos corpos se procuravam no quarto, cela, nosso próprio universo – pela manhã – rolava os olhos por seu corpo nu como se nunca mais fosse vê-la e assim gastávamos toda nossa companhia – meses – anos – seriamos uma família. E de lá saímos para nossa rotina. Ela não sabe que só a minúcia de algo que a lembre vira meu estômago e me faz tremer – não sei mesmo se isto é amor o que é, amor - andei lendo: é necessidade sem forma é falta sem cheiro é o que. Rabisquei inúmeros poemas para entregar-lhe:

eu cavei um buraco no fundo do céu
tem um jeito pra uísque que não se aprende nos trópicos:
só no escuro.
pelas veias da cidade,
eu corro os olhos
fechados por mim
abro uns braços no coração do país que inventei.
que me leve o sono
e a casa vazia

um trago

um copo d'água

e um deus

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Terceiro dia.

Parece que quando escrevo eu vivo a ficção que invento durante o dia na minha cabeça, e tem umas pessoas que até acham que é bom. É literatura. Risos. Isso aqui é um monte de nada jogado num documento do Word com a pontuação incorreta de propósito. É arte. Dessas fáceis que tu lança num blog e algumas pessoas lêem. Conheço uns escritores publicados que se levam a sério. Eu acho que escrever tem mais a ver com desapego do que com autoral. E Depois, é papel vai pro lixo - é reciclável, não que eu não queira publicar, mas alguém já disse ou vai dizer melhor. Minhas idéias sobre escrever são medrosas e fingem ser um blog descolado. Meu cu. Olhem só estou aqui escrevendo e digo que só tem referencia aqui, nada novo, tudo cópia mal feita. Qualquer um pode ir conferir. Meu cu para quem ainda não sacou a referência. Risos. Hoje eu nem bebi, ainda.



Nessa linha não vou dizer nada sobre escrever feito o ourives da Praça da Sé que também troca dólar euro. É casa de câmbio. Literatura casa de câmbio. Troco três poemas meus por uma cerveja. Ainda não bebi hoje. E tudo anteriormente escrito pode não ter haver com o pós-escrito. E isso eu escrevi agora depois de terminar o pós-escrito. a idéia caminha e percorre lugares estranhos. E Isto foi pra dizer que pensei nesse parágrafo.


Dia 13.

Mais velho serei alcoolista sentado nos bares da augusta... angustiado por qualquer papo, qualquer tato, qualquer grito. Esse mesmo que sucumbo. E venderei meu livrinho medíocre por mim mesmo editado e recitarei Leminski quando estiver bêbado e as pessoas do bar baterão palmas de pena pra mim. Acordarei desse sonho e então terei um emprego de oito horas que pague meu aluguel. vai ser um quartinho medíocre com uma cama de casal habitada esporadicamente por mulheres que conhecerei numa espelunca qualquer depois de vários tiros de um pó ruim, a cama estará com um lençol que minha mãe me ofereceu depois da última visita que fez. Minha mãe sempre dirá que desperdiço minha faculdade nesse emprego público de oitos horas que me impedirá de escrever e de vender meu livro editado por mim de mesa em mesa de bar recitando Ana.C. cansado durmo durante o eterno parágrafo.






Um dia minha mãe vai dizer que eu deveria casar e ter família - Me acha sozinho. E eu vou dizer que tenho meus amigos e outras preocupações, que eu até já namorei umas vezes, mas não deu certo, pois tiravam meu espaço e não conseguia escrever. daí ela vai lembrar que eu ganhei aquele concurso de redação na escola sobre o dia das mães e tudo não vai passar de uma lembrança boa, esquecerá que ando meio só mesmo, que ando comendo mal e que todos meus amigos são casados e bem sucedidos, e que eles, algumas vezes, quando estão fudidos me ligam para tomar uma cerveja e falar da vida ruim que levam. E eu, eu vou me sentir bem quando eles desejarem essa merda de vida que levo, e na hora vou falar que é boa e que gosto.




Primeiro dia.


morar sozinho. finalmente passei naquele concurso público que me dará condições de usar meu tempo livre para escrever sem pensar no amanhã. um dia ficarei pensando no ônibus no meio daquela gente suada que também trabalha o dia todo e tem uns filhos, como fui burro ao achar que fazer a mesma coisa durante todos os dias do meu ano seria uma coisa boa, mas daí não haverá tempo e nem mais como fazer aquele mestrado, terei perdido o contato com a academia e verei medíocre todas as idéias. Não poderei ter um cão. Beberei cada vez mais.




último dia.


E, em alguns dias darei festas e comerei mais mulheres. Até terei uma namorada, conversaremos pouco depois do sexo, e quem sabe até poderíamos gostar um do outro, mas o medo de machucar-se e perder uma foda periódica traga o silêncio depois do sexo. Terei uma melhor amiga com a qual tecerei boas e profundas conversas, a mesma que tenho a vontade de comer e não faço, pois só conheço o silêncio depois do sexo. Flertaremos muitas e muitas vezes depois de meia caixa de cerveja com amendoim, terminando numa catuaba, nus engendraremos umas risadas, acabaremos nos vestindo e sairemos para dançar e fazer sexo com estranhos.










Décimo terceiro dia.


Irei visitar minha mãe, e comerei o que mais gosto, ganharei abraços e meu pai comprará meia dúzias de cervejas para bebermos, não conversaremos nenhum assunto além do futebol, temos gosto pelo mesmo time. Será uma conversa com frases soltas sobre como vivo e o futuro. Logo entenderei que minha mãe pediu para que ele conversasse comigo, logo ele que mal fala com qualquer um, um turrão. Tentará um de meus irmãos e, depois ligará para algum amigo de infância do qual não terei mais o menor contato. Ele me ligará pra tomar umas cervejas em um lugar que já odeio de antemão. E não nos entenderemos e não haverá conversa. e depois nunca mais nos falaremos dirá a minha mãe que talvez eu use drogas. Desmentirei.
E minha tristeza é porque terminei com um a namorada que eu tinha que ela nem chegou a conhecer.




Qüinquagésimo nono dia.

“Vésper caiu cheia de pudor na minha cama
Vésper em cuja ardência não havia a menor parcela de sensualidade”.



O dia de todos os santos.


Entrar na igreja para o batizado do filho de um desses amigos foi tão ou mais dolorido que trocar jeans por social e tênis por sapato. A comida depois valia a pena. o batizado coincidiu com o aniversário do rebento. Parar de usar que. E o brigadeiro desmanchava em minha boca e eu corria atrás das crianças e girávamos pelo gramado, passávamos por debaixo das mesas e ríamos das meninas de vestidos semelhantes ao bolo de aniversário com abacaxi no meio. Quem é que coloca chope em aniversário de criança. meu pé dói.



Anteontem.

Até podia escrever, mas cansei. Prefiro sorver.

Carta de minha mãe.


“Querido,
Poderia mesmo ter te ligado.
Sei que andas pelos seus recantos, fingindo, sempre fingindo. Quero que me diga, onde dói – acho que você não acredita que percebo – sei desde quando criança era desses seus olhos, esse seu jeito de deixar sua cabeça no meu colo esperando um cafuné - é angustia. Sei também que quer dizer algo, mas cala, pensa assim me deixar mais feliz, ambos somos tristes neste teatro de atos semi-controlados. Vê se alimenta direito, vá a um médico e para de beber – da ultima vez que fui ai, só havia bebida na sua casa, e troca aquele lençol. Não me mande dinheiro, achando que resolve sua falta”.
Queria mesmo saber onde dói. Não fale com seu pai sobre essa conversa, ele não entenderia.



Aquele dia outra vez.


Parece que todos os dias se repetem. Sei, é um lugar comum. A repetição do meu dia não se dá nos hábitos diários: no café; no almoço; na maneira como levanto da cama e coloco as mãos no rosto com os braços apoiados nos joelhos, não está no eu já vivi isso. Repete-se justamente na forma como vou mastigando mentalmente, não sei explicar, mas é como se eu pegasse esse hábitos e ruminasse sabendo o gosto, a cor e a forma de antemão, mas querendo chegar ao fim dele, ao fim não, ao princípio.








Festa lá em casa.

Estou retomando minha vida. Dei uma festa ontem. Chamei uns amigos. A gente bebeu e deu risadas, havia música boa ao fundo. Estou morando sozinho faz um mês. Tudo é outra vez novo. Fico feliz em ter contas para pagar, rotina ...andar pelado. Falávamos sobre coisas profundas, sobre os nossos vazios – a casa cheia de uma melancolia doce. Embriagada.




Dia 25.


Minha mãe me mandou uma carta. Nunca achei que fosse possível ouvir aquilo dela, mexeu comigo. Tive medo dessa ligação que temos sob a pele. Fiquei com medo de saber que tem alguém bem dentro de mim, que percebe tudo só de olhar. 20 dias que não vou para casa de meus pais. Fazia tempo também que não escrevia, andei soletrando frases:

“troquei a velha fantasia por um postal e toda a desesperança”


Não sei ainda o que ela quer dizer.


Meu ter em mim é uma desmesura


Acho que bebi demais. Hoje é terça feira, não já é quarta – ainda é quarta. Depois de um sono mal dormido corro para o banheiro – angústia dupla: a primeira retorna após a embriaguez; a outra é o desconforto do estomago virado.
Aquela amiga que sonho em comer veio em casa hoje. Tivemos uma boa conversa sobre todas as coisas em volta do nosso próprio umbigo – ela estava ligeiramente bela: uma camiseta velha, jeans e tênis sem meia. A camiseta desgrenhada na gola deixava ver seu ombro – enquanto ela falava e eu concordava com a cabeça – pensava seriamente em como jogar meu corpo sobre o dela – e depois nus - continuarmos nosso papo com cigarro acesso entre os dedos e um ar de saciados sob a pele. Mas enquanto ela fala e eu devaneio em sonhos semi-eróticos um eu pudico me segura pelo braço dizendo - não. E ela se vai – fica a vontade – meu coração quer peregrinar por arrabaldes quer ser livre em tentar – força maior, estupidez tamanha deixam-no aprisionado. Porra! Porque diabos eu nunca tentei nada? O que eu perco com isso? Medo do que? De perdê-la de vez? Essa coisa de migalhas, de só se ter um pouco, ou quase nada – essa coisa de não se dar, de não deixar-se. Angústia. Vou dormir.
Desci a pé até chegar em casa depois do cinema – outra vez fui sozinho – alguns amigos dizem que fazer coisa assim desacompanhado é deprê – eu acho que me livro de papos chatos e de pessoas com as quais não quero compartilhar o prazer de um filme ou de uma cerveja. Retruco sempre: vocês saem com suas namoradas vão a lugares – e quando não estão com elas estão sempre reclamando sobre ou delas – é triste é deprê é a merda que for – mas eu não me submeto a estar com quem não gosto – com exceção de “colegas” de trabalho. Por que diabos eu vou perder meu tempo com gente que não gosto! Pronto falei.
Muitas pessoas pelas ruas enchem os bares e me lembram aquele verso “bares cheios de pessoas vazias” – será que quando estou no bar sozinho estou vazio também? Este meu ter em mim – este silêncio – a violência deste silêncio é um vazio? O que é o vazio de se sentir sozinho? – eu conheço gente vazia – mas não julgo ninguém – na minha casa tem um espelho. E nu diante dele não há reflexo. Paro num bar e entro para beber – sozinho.
Tudo o que escrevo foge do meu controle, tem uma coisa na minha cabeça que não tem linearidade, talvez, precise de algum tarja preta – ou apanhar na cara – uns belos tapas até ficar com a face dormente. Apanhar na cara. Todo o dia antes de dormir toca na minha cabeça a desmesura de um dia após o outro, levanto para colocar a grandeza no papel – mas ela escapa em mil outros pensamentos e adormeço – é um dormir arrastado que não é dormir nem sonhar – um mastigar de fatos isolados tentando se encontrar, nada disso cabe na palavra angústia – palavra que gosto – tenho retalhos distorcidos em vários arquivos de Word – nada que dê um bom texto, nada heróico – nada labirinto – nada. Ela saca tudo isso enquanto conversamos ao redor do nosso umbigo e nos olhamos - tiro a roupa dela, tiro sem tocá-la.



deixa eu dançar

me diz - por onde andar com essa lua, meus pés medem a distancia em sussurros. Essa coisa tão esquiva e desajustada um jeito todo torto - diria mais pelas coisas incertas esperando que furtivos os momentos se encaixem numa velocidade matemática do acaso - seria mesmo óbvio contar e vomitar querências. E há justiça em trocar aquilo por isto, ou o contrário? Você trocaria? A coisa estável pela demência do novo, pela doce demência de pisar em cubos de gelo – escorregar – por todas as frestas do seu corpo com os olhos maciços - destes que cabem num minuto em trocas verdadeiras. Quantas vezes refugou? Flertar sobre o asfalto de bar em bar – essas profundezazinhas. Será que mergulhar inteiramente numa coisa é pouco, todas estas amarras, toda essa merda – você cospe tudo assim – sente porra!


Dos transportes públicos


A direita uma senhora semi-velha narra a uma desconhecida – desavisada que senhoras semi velhas trajando roupas semi novas e com o cabelo em coque quase grisalho são perigosamente tagarelas – fala do casamento da filha da irmã da vizinha; assunto com o qual a outra responde num balançar de cabeça de quem na verdade não quer, não está, e nem pretende ouvir e só é minimamente educada – a velha a cada frase limpa o nariz na manga da blusa. A esquerda, ainda se vê da porta de entrada do ônibus um lugar vazio – começa uma disputa silenciosa em que corpos e mãos tentam agarrar-se cada vez mais longe nas tubulações metálicas em amarelo do ônibus para chegar primeiro à catraca. Perdida a batalha resta o estudo minucioso de ao lado de qual banco se posicionar esperando que logo mais a vitima se levante para ocupar o banco ainda quente de bunda alheia. Esta análise requer a rotina de por algum tempo pegar o ônibus no mesmo horário, verificando a inquietação e principalmente os olhos da vitima – deve-se olhar intensamente e usar todo o repertório de caras e bocas possíveis – mentalmente forçar a saída da outra pessoa do estado de conforto e jogá-la as mesmas condições de luta, feito isso: é dar sorte de que ela realmente vá descer rápido. Fico mastigando essas pequenas batalhas diárias – disputando com desconhecidos provas de velocidade e habilidades – com que rapidez atravesso a rua ou a velocidade como, saindo em desvantagem, chego mais rápido na escada rolante. Escolho sempre alguém com potencial, pernas compridas, e saio a caça – é verdade que perco muitas batalhas – há um excessivo numero de pessoas que não sabem andar em plataformas ruas e dentre os milhares de atrasados com segundos caros a romper. Não que esteja atrasado – eu nunca estou – nunca estive – a sensação de disputa é que me atrai. Escolho a vitima e me atiro numa disputa imaginária da qual eu nem sempre sou o vencedor.




Pela manhã: não tomo coragem, tomo café.


Não falar o nome da minha melhor amiga que tenho vontade de comer é preservar a inveracidade do narrado. Nomes - mesmos os inventados em pseudo-literatura fazem as coisas parecem mais reais – chamar a fulana de pessoa que eu quero comer dará ao leitor inúmeras possibilidades de fulanos que eles querem comer e um ar de desimportância ao fato – acho que nada ficou claro neste parágrafo.
Estive na casa dela ontem – de um encontro furtivo na mesma sessão de cinema – umas cervejas no bar, outras para viagem – um jazz ambiente tocando: conversávamos.
Fique claro neste parágrafo que a todo tempo fico imaginando ela sem roupa.
Ela tinha lido algo que escrevi bêbado num pedaço de papel “descobri toda solidão numa estação de trem com uma coca-cola na mão. Mais triste: Descobri que era sozinho lá”. Você finge toda essa solidão pra fugir – me diz onde dói então? Me explica exatamente estes teus silêncios estas tuas frases, essa coisas docemente tristes que escreves quando o álcool rompe todos os seus nós?. Não que eu nunca tivesse visto ela sem roupa, há na cumplicidade de uma amizade essa coisa de não se preservar o corpo. Sei o formato dos seus seios e posso fingir minha mão na proporção exata para encaixá-la lá. A boca dela tem uma coisa de boca de Alessandra Negrini fazendo engraçadinha moça. Começo por lá pela boca, nunca os olhos – me denunciaria um olhar nos olhos nesses momentos exploratórios imaginativos – agora no colo, ombros nos quais passaria horas tateando com as pontas dos dedos – os seios dois melõezinhos, nem pequenos nem grandes. Tu nunca te entregas a nada, sempre um pé atrás, se fica com alguém nunca liga de volta, e quando a pessoa insiste em querer finge um não sei o que de ter cansado de alguém que nunca mesmo chegou a ver de verdade. Ficas nestas teorizações – essa filosofia velha de “todo retorcido”. Hoje ela estava ainda mais bela – me dava um sermão – sabia que eu tinha desistido de uma mulher com quem estava saindo pelo simples fato de ela, a mulher, começar a querer me ver fora daqueles dias combinados em que trepavámos até amanhecermos num motel qualquer – queria saber de mim o que fazia, do que gostava – saber demais de mim. Em três anos isso foi o mais perto de um relacionamento que tive – quatro semanas de sexo nas quartas e sextas. Não sei mesmo de você, acho que também me enganas com estes fragmentos que jogas em frases! No momento em que começaria a chegar à barriga ela vem com uma frase que me traz ao regaço da realidade: uma sala, umas cervejas e uma conversa, que agora me parece séria, sobre mim. È bem nestas horas que eu queria que meu celular tocasse e fosse uma namorada minha com um histérico ataque de ciúmes almejando minha presença imediata. Mas não tenho namorada. Fez-se silêncio depois da frase por algum tempo entre goles – tirei do bolso um pó preparei quatro carreiras: cheiramos. Não que tenhamos fugido da conversa, não era só eu, ela também: ninguém quer chegar aos desvãos realmente, o mais próximo de atirar-se é pensar no precipício. Adormeci pensando que estávamos fazendo amor. Aqui foram somente reproduzidas as falas dela, não que eu não queira me expor – pela manha deixei um bilhete de bom dia – era domingo.